- As-salamu alaikum, mestre Gualdim.
- A paz esteja contigo também, Ahmed.
- Entre nós haverá sempre paz, mestre. Assim está escrito nas estrelas.
- Já poucos homens olham as estrelas, irmão.
(Ahmed, olhando para o céu...)
- Está sem dúvida uma linda noite, mestre.
- Diz-me irmão, os teus antepassados também contemplavam as estrelas?
- Como num espelho.
- Como assim!?
- Sou descendente de tribos ancestrais que habitaram as terras altas do Atlas. Os Imouharen, que significa: os livres. Também conhecidos por guerreiros azuis por usarem o tagelmust, o véu azul.
- Descendes então do velho povo a que o vulgo chama 'tuaregue'?
- Sim mestre. Contam os antigos que em tempos muito remotos o meu povo atravessava de África para a Península a vau, através das grandes cascatas, ainda antes do grande oceano engolir as terras médias e vinham até aqui. Muitos ficaram por cá.
- Então o sangue dos que falam tamasheq anda por aqui, misturado, desde o fundo dos tempos?
- Assim parece. O meu povo costumava tatuar as estrelas no peito. Diziam que cada uma delas representava um amigo que ficava deste lado. E como as observavam de lá, imaginavam-nas como que reflectidas num espelho para os que as olhavam no céu, daqui.
- Interessante o que me contas, Ahmed. Não te atraem as tuas raízes?
- Nasci nesta terra, mestre. Nunca conheci outra. Como a poderia trocar? Amo cada gota de água destas fontes, cada recanto destes bosques, cada pedra...
- Nenhuma será tocada, prometo-te.
- Entrego-te o castelo esta noite, mestre. De manhã, pelo raiar do sol já todos teremos partido.
- Enganas-te Ahmed. O meu Rei e senhor pede-vos que fiqueis. Nada vos será tirado. As vossas casas, as vossas terras, a vossa fé. Este é o seu desejo e o meu também. Do fundo do coração.
- Grande alegria me dás irmão. Se é esse o teu desejo e o do teu Rei e senhor, aceito comovido em nome dos meus. Alá é grande!
(Olhando ambos para o céu...)
- É impressão minha ou esta noite as estrelas estão mais brilhantes? Que te parece alcaide?
- A mim parece-me Mestre, que andam por lá a escrever algo de belo…
(diálogo ficcionado)
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