Vista geral de Longroiva
O Castelo de Longroiva está situado no ponto mais alto do antigo castro de Longobriga. No inventário dos bens do Mosteiro de Guimarães, no ano de 1059, vem relacionado este castelo. Neste período, ocorre um expressivo surto de povoamento na região, atribuído a D. Egas Gozendes, que outorga uma Carta de Foral a Longroiva em 1126, e posteriormente, a D. Fernão Mendes de Bragança (esposo da Infanta D. Sancha e, portanto, cunhado de D. Afonso I), que doa estes domínios de Longroiva à Ordem do Templo em 1145, sendo Mestre Hugo Martins.
Actual estado do castelo; reconstrução moderna
Em 1176, o Mestre D. Gualdim Pais reedifica o castelo e na Torre de Menagem monta um hurdício (galeria de madeira que, no topo dos muros, permitia o ataque vertical sobre o inimigo) como denunciam os encaixes talhados nos silhares onde este se apoiava o que a torna o primeiro exemplar da arquitectura militar portuguesa a adoptar este sistema.
Ainda se pode ver a inscrição comemorativa da construção da Torre de Menagem gravada em três silhares na fachada Oeste e que dizem:
Silhares da torre de menagem com inscrição
[IN E]RA MCCXII MAGISTER GALDINUS CONDUTOR PORTUGALENSIUM MILITUM TEMPLI REGNA[NT]E ALFONSO PORTUGALENSIUM REGE CUM MILITUBUS SUIS EDIFICAVIT HANC TURRIS
Tradução: "Na era de César de 1214 anos (1174), Gualdim, chefe dos cavaleiros portugueses do Templo, mandou edificar esta torre com os seus soldados, reinando Afonso Rei de Portugal".
Este reduto Templário constituiu uma posição estratégica militar importante durante a fase transitória da reconquista e foi uma base principal para os cavaleiros da Ordem do Templo.
D. Dinis (1279-1325) concedeu foral à vila, e, em 1304, mandou fazer alguns reparos no castelo. Ainda no seu reinado, em 1319 e perante a extinção da Ordem Templária, os domínios da povoação e seu castelo foram incorporados ao património da Ordem de Cristo, sua sucessora.
Quase no extremo norte do vale mantém-se ainda um testemunho do aproveitamento agro-pecuário, que a Ordem de Cristo aqui fez, conservado no nome da "Quinta do Chão de Ordem". Os núcleos populacionais, anexos de Longroiva, nascidos de antigas vilas agrícolas romanas, ou de herdades medievais sob a protecção dos Templários, são as Quintãs, a Quinta da Relva, a Quinta da Cornalheira e a dos Gamoais.
Entrada da torre com vestígios do hurdício
"Cruz" Templária inscrita na rocha idêntica à de Castelo Novo
A 25 de Outubro de 1507 dá-se a visitação de Frei João Pereira, da Ordem de Cristo, ao Comendador Frei Garcia de Melo, que executou benfeitorias no castelo, onde consta que a praça de armas havia sido quase que inteiramente tomada pelo Paço do Comendador:
"torre de dois pisos e edifício que constitue os aposentos do Comendador, de dois andares com cinco divisões em cada, com chaminés em tijolo e forro interno de madeira, a que se adossavam casa de hóspedes, cozinha com forno, celeiro e estrebaria".*
Na torre de menagem, ao centro da praça de armas, defendida por um hurdício, rasgava-se uma janela mainelada, em estilo manuelino, que chegou aos nossos dias. Em 1510 D. Manuel concede-lhe Foral Novo.
Poço da cisterna do castelo na praça de armas
Capela da Sra do Torrão, lateral à matriz
No século XVIII, uma descrição do castelo referia que com relação ao paço "novo" do Comendador, as suas casas "encontravam-se já destelhadas e em ruína", a cisterna, que abastecia a guarnição, entupida, e as portas do castelo, que no passado haviam defendido o acesso, não possuíam já qualquer grade ou portão de madeira.
Tampa de sepultura
No último quartel do séc. XVIII, o castelo foi transformado em pedreira local, e desmanteladas as suas muralhas. Em 1855 foi extinto o Concelho de Longroiva. Nesse período, provavelmente a partir da extinção das ordens religiosas (1834), a sua praça de armas passou a ser utilizada como cemitério da vila, função que perdura até hoje.
Foi na capela da Senhora do Torrão, originariamente um pequeno templo românico, junto ao castelo, que os Templários deixaram os testemunhos mais expressivos da sua passagem, designadamente a consagração da pequena capela em honra de Santa Maria, S. Nicolau Confessor e outros santos, uma tampa sepulcral com uma cruz de Cristo esculpida e uma espada, e uma outra cruz de Cristo no antigo Tribunal e Cadeia.
Placa de homenagem de uma ordem neo-templária (OSMTH) aos Templários de Longroiva
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* - Aqui fica uma curiosa descrição do castelo:
* - Aqui fica uma curiosa descrição do castelo:
"Acima um pouco da dita igreja tem a Ordem um castelo, em que tem uma torre de menagem, toda de cantaria lavrada, e de boa altura. E tem dous sobrados, igualmente madeirada e coberta de telha vã, e tem uma boa janela nova contra o ponente, com suas portas novas. E leva a dita torre pelo vão 5 varas de longo e 3 varas de largo. Tem um portal pequeno, com suas portas ainda boas. Arredor da dita torre está o aposentamento do dito comendador, ao qual entram per um portal novo de cantaria, bem obrado, com suas portas bem fechadas. E além do dito portal está um arco, outrossi de cantaria. E à entrada do dito arco está um recebimento pequeno, em que está uma cisterna. E logo à mão direita está uma sala, novamente feita com seu portal e paredes de cantaria, e tem suas portas novas. Esta sala é sobradada, e sobem a ela per uma escada de pedra com seu mainel outrossi de pedra, e tem ao norte uma boa janela de assentos, com suas portas boas e novas. Ao centro desta sala está ora feita de novo uma chaminé grande, de madeira barrada e sobre a dita escada e na dita sala estão uns almários novos de castanho. Esta sala leva de longo 8 varas e 4 e meia de largo. E leva uma casa de baixo deste tamanho. À mão direita da entrada da dita sala está uma câmara que está sobre a primeira entrada, outrosi novamente feita, bem madeirada de madeira de castanho, e telhada de telha vã. E tem uma janela de assentos com suas portas novas, contra o ponente. Leva 5 varas de longo e 4 de largo. A dita sala tem as paredes cafeladas da parte de dentro. À mão sestra da entrada da dita sala tem outra sala velha, com um portal novo de pedraria e suas portas novas, madeirada de madeira velha e coberta de telha vã, que leva 7 varas de longo e 5 de largo. E está nela uma escada de madeira, per que vão à dita torre. Debaixo desta sala vai uma logea, do tamanho dela, que ora serve de adega. Além desta sala está outra casa pequena, velha, madeirada de castanho e telhada de telha vã. E tem uma janela nova de pedraria, com seus assentos e portas, contra o levante. Esta casa leva de longo 6 varas e 3 de largo. Além desta casa está outra casa pequena, da dita maneira, que se não mediu por estar fechada. Diante da dita sala e câmara novas e no dito recebimento está uma casa sobradada, que é casa de hóspedes. As paredes de cantaria, bem obrada, igualmente madeirada e coberta de telha vã. E tem uma janela contra o ponente. Leva de longo 5 varas e 4 de largo, e é sobradada. Além desta casa vai outra casa térrea que serve de cozinha, e tem dentro um forno. Está madeirada de madeira velha, e telhada de telha vã. E leva 7 varas de longo e 4 de largo. Além desta casa está outra casa que serve de celeiro, térrea, coberta de telha vã. Leva 6 varas e meia de longo e 6 escassas de largo. Junto da dita torre constra o sul está uma casa térrea, que serve de estrebaria, com suas manjedoiras, telhada de telha vã. Leva 7 varas de longo e 5 de largo. Estas casas estão cercadas pela maior parte de muro velho, per partes derribado, que foi já em outro tempo cerca do dito castelo. E diz-se que foi já aqui convento dos cavaleiros do Templo."
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