Moçab-D’har
Não se conhece em pormenor a decadência e o fim da cidade luso-romana de Nabância. Como já referi, algumas folhas do códice Kall Murion perderam-se para sempre. Através dos comentários escritos pelos frades beneditinos que o copiaram, sabemos apenas que era de pequena dimensão e estendia-se ao longo da margem esquerda do rio Nábia. Sabemos também que foi destruída mais que uma vez pelos mesmos bárbaros que saquearam Roma e invadiram depois a Península hispânica. Neste período, as artes de pedra de Nabância foram aos poucos desaparecendo levadas para outras paragens até ficarem, apenas e só, restos e alicerces. E desses restos levantaram depois os freires beneditinos o seu mosteiro.
Entretanto...
" Ao outro lado da margem do rio começaram a chegar as novas gentes vindas de África. Primeiro um marabuto, homem santo, que se instalou numa exígua lapa do afloramento rochoso que fica um pouco mais abaixo da velha torre romana. Depois uma pequena comunidade que se instalou dali colina abaixo até perto da ribeira. Foram estes que em devoção ao velho marabuto lhe edificaram uma cuba para sua habitação. Os mesmos que depois da sua morte ali mesmo ao lado criaram um pequeno cemitério."
(Deste velho eremita pretendo, numa futura publicação, dar notícia da influência que teve na fixação da população moçárabe neste local e da sã convivência com a comunidade beneditina instalada no outro lado do rio.)
Com o tempo, o convívio pacífico entre árabes e cristãos fez com que a pequena comunidade se expandisse constituída principalmente por cristãos convertidos a que vulgarmente chamaram de moçárabes. Por ser maioritariamente terra destes convertidos tomou o nome de Moçab-d'har.
A dada altura as autoridades muçulmanas julgaram ser justificado mandar construir no morro da torre romana um alcácer para defesa da população que se expandira colina abaixo. Para tal mandaram também murar a partir do reduto militar toda a vertente sul e leste até à margem do rio que na altura baptizaram de Thumart. Com este aumento da área populacional nasce a calçada árabe que conduz ao topo do monte e se divide entre o "castelo" mouro e a "charola" moçárabe.
"É nesta altura que devido ao religioso fervor cristão e árabe se edifica o primeiro templo circular à imagem do original em jerusalém. A Masjid-d'ahriad a que também os beneditinos têm franco acesso. Como curiosidade é o único edifício que fica extra muros embora unido à fortificação pela calçada mourisca que ali bifurca."
A chamada "reconquista" cristã vai ditar o posterior abandono desta região tendo ambas as comunidades (a moçárabe e a cristã beneditina) se recolhido respectivamente, uma à praça forte de Santarém e outra ao norte do condado Portucalense (provavelmente a Braga).
A importância deste lugar "sagrado" será entretanto transmitida aos Templários pelos monges beneditinos o que terá tido uma influência definitiva na pretensão e posterior aceitação da troca de Santarém pela região de Ceras ou Cellas (Tomar) após a tomada de Lisboa.
Foi este o cenário que Mestre D. Fr. Gualdim encontrou no local quando ali começou a instalar militarmente a Ordem.
Mas isso é algo para vos contar no próximo artigo.
Fr. Manuel F. B.
cronista-mor da Ordem
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