Al-Faghar (2)

15 de Outubro de 2018


Os Monges Negros de Sagres 


Após a batalha de Ourique os Templários Portugueses regressaram a Soure trazendo consigo vinte Muridin que o Mestre acolhe na Sede da Ordem por uns tempos. Estes, aos poucos, foram-se instalando discretamente em Moçab-d'har onde montaram a sua base de acção partilhando em segredo as movimentações inimigas na zona. Ninguém desconfia deles. 

Em 1140 testam-se as defesas da Lisboa árabe num ataque cristão que serve para infiltrar alguns Muridin junto com os camponeses que se refugiam dentro das muralhas da cidade. Em 1144 porém, Soure sofre um pesado ataque por parte das tropas de Abu Zacaria alcaide de Santarém que consegue assim punir a ousadia dos Templários por terem participado na batalha de Ourique. 

Em resposta, parte de Coimbra uma força cristã que lança uma série de ataques nos arrabaldes de Santarém simulando querer recuperar os prisioneiros de Soure. Simulado é também o ataque ao castelo de Moçab-d'har de onde saem os Muridin misturados com a população que em fuga se refugia em Santarém. Os monges guerreiros de Ibn Qasi estão agora dentro das muralhas de ambas as cidades e esperam a hora de actuar. 

É ainda neste ano de 1144 que Ibn Qasi volta a pedir auxílio a Dom Afonso I que lhe envia algumas tropas, essencialmente cavaleiros do Templo. É neste acto de entreajuda militar que os Templários vêem a oportunidade de saber mais sobre a questão das relíquias cristãs ocultas em Sagres. Ibn Qasi acede de boa vontade à pretensão dos aliados irmãos do Templo e volta a indicar o velho marabuto (homem santo), onde cinco anos antes havia ocorrido a reunião (junto da sua cuba) das forças conjuntas cristãs e sufis, que informa então em pormenor quais as relíquias (será por este nome que será recordado o local) que se encontram nas entranhas do albergue do Corvo protegidas durante séculos pelos enigmáticos monges negros. 

Os Templários Portugueses preparam então, nesse mesmo ano, uma expedição a Sagres a fim de negociar o traslado das relíquias para território cristão já consolidado. Não estavam no entanto preparados para o que iriam encontrar... Num relatório feito por Fr. Romão consta o seguinte: 

"O albergue a que os que por ali passam chamam de mosteiro é guardado por apenas quatro monges que vestem de negro à tradição árabe. São no entanto antigos cristãos que nunca se converteram. Falámos ao que vínhamos e pareceu nos até que estavam à nossa espera tal foi o acolhimento que nos deram à proposta de meter a salvo da moirama as relíquias cristãs. Indicaram nos então o local onde se encontravam guardadas fazendo nos descer por uma grossa corda a um poço fundo que se acha dentro do albergue até uma cave onde se podiam ver metidos numa parede quatro ossários de pedra com símbolos inscritos. Foi grande a nossa alegria e espanto por achar ali o que havíamos antes apenas ouvido falar tantas vezes." 

Albergue do Corvo 

Foram trazidas para Coimbra em total segredo e guardadas no mosteiro de Santa cruz até que mais tarde foram definitivamente depositadas em Tomar, em túmulo comum, as seguintes relíquias:

[os desenhos aqui apresentados foram por nós copiados dos esboços originais] 


"Uma caixa de calcário com tampa da mesma pedra medindo dois palmos de altura por um e meio de largura e dois e meio de profundo contendo ossário humano completo e tendo numa das faces menor externa a inscrição in speculum*; MARIAM com os símbolos que aqui reproduzo: uma torre sobre colina em crescente lunar invertido encimada por estrela de oito pontas."   *- Espelhado 


"Uma segunda caixa da mesma pedra e tamanho também com tampa contendo ossário humano completo tendo numa das faces menor externa a inscrição in speculum; SARA com os símbolos que aqui reproduzo: uma árvore palmeira com quatro palmas e uma serpente enrolada de cabeça coroada com sol de cinco raios." 


"Uma terceira caixa igual com tampa contendo apenas um crânio humano e tendo numa das faces menor externa a inscrição abreviada; BAPTISTA HOMO EST com os símbolos que aqui reproduzo: um crânio pairando sobre as águas." 

Interrompemos aqui a descrição de Fr. Romão para vos mostrar em pormenor esta inscrição cujo conteúdo dissimulado é deveras revelador. Reparemos na forma como é feita a abreviatura: BAP(tista)HOM(o)E(s)T 


Se ligarmos as letras maiúsculas obtemos a palavra BAPHOMET o que nos remete directamente para o conteúdo da caixa. No entanto o que nos chamou a atenção foram as minúsculas abreviadas. Se notarem bem no BAPTISTA temos abreviados os dois 't' (o primeiro sobre o A e o segundo sobre o separador ':') que compõem a palavra e que se apresentam em forma de cruz; o primeiro propositadamente rodado (cruz em aspa ou X; primeiro 't') e o segundo na posição normal (cruz em + ou segundo 't'). Em HOMO temos o último 'o' abreviado (sobre o segundo separador ':') e em EST o 's'. Foi assim com grande surpresa (na altura do estudo deste documento) que juntando as abreviaturas obtivemos 'xtos' ou seja Christo. E finalmente: 


"Uma quarta e última caixa de calcário de menores dimensões sem tampa e vazia tendo numa das faces menor externa a inscrição; IOANNES FILIUS MEUS com os símbolos que aqui reproduzo: um Regium in speculum sobre letra O e coroado." 

Este símbolo "Regium in speculum" (que se assemelha a uma flor de Lis) aparece representado em três das quatro caixas de ossários indicando que tanto Maria (Madalena) como seus filhos Sara e João trazem consigo o sagrado Sangue Real. Dom Afonso I sabedor deste pormenor (por ser Irmão no Templo) mandou cunhar dinheiro com este símbolo. 


S. Vicente é outra história. Uma história sobre a qual nada temos registado que nos confirme a autenticidade das suas relíquias. A existirem, tudo indica que ainda estejam no Cabo Sagrado. 

Fr. João do Paço 
cronista-mor

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