08 outubro 2020

Rumo ao Paraíso

1 de Junho de 2018 






                            Escapo-me de ti Al-Burj (1) com a lua cheia
                            Deixando para trás tua forma já difusa
                            Durmam bem irmãs faluas... até amanhã

                            Vou levado na suave brisa da maré-meia
                            Guiado pelo chamado de minha Musa
                            Rumo ao cais das Fontes de Hassan

                            Saúdo-te ó Ar-Ra'ad
(2), rio-trovão
                            Saúdo Burj'munt
(3), tua cidadela
                            Suavemente adormecida à beira-rio

                            Simulando cansado guardião
                            Mas sempre atenta sentinela
                            Quem teu forte pulso já não sentiu?

                            Baixa esta noite a guarda, venho em paz
                            Troquei meu fiel alfanje pelo frágil alaúde
                            Embriagado de Lua até que chegue a manhã

                            Deslizando no silêncio que a hora traz
                            Passarei Xanar'burj
(4) antes que a maré mude
                            Rumo ao cais das Fontes de Hassan
(5)

                            Quero inebriar-me no teu doce perfume
                            Afundar-me no mar azul do teu olhar
                            Beber desses lábios todo o teu sorriso

                            Na volúpia dos teus seios acender meu lume
                            E no teu corpo incendiado voltar a navegar
                            Perdido de amores, rumo ao Paraíso

                            Se eu não voltar, Ar-Ra'ad
                            Saúda por mim as faluas de Al-Burj


Al-Bideru Bin Al-Muni 

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(1) - Al-Burj, "a torre", conhecida pelos cristãos como Albur, a actual Alvor. 
(2) - Ar-Ra'ad, hoje Arade, rio que banha Silves e tem foz em Portimão. 
(3) - Burj'munt, que por má interpretação dos cruzados tomou o nome de Porcimunt, é hoje a cidade de Portimão. 
(4) - Xanar'burj, a "torre de Xanar", conhecida pelos cristãos por Xanabus existiu na que é hoje Estombar (e não S. Brás de Alportel). 
(5) - Fontes de Hassan serão actualmente as "fontes" de Estombar.

1 comentário:

Filipe Pereira de Amaral disse...

Este é um dos muitos poemas, talvez o mais belo, dedicado ao rio Arade e seus recantos e que reflecte uma época aurea da presença mourisca na zona de Portimão.