1 de Junho de 2018
Escapo-me de ti Al-Burj (1) com a lua cheia
Deixando para trás tua forma já difusa
Durmam bem irmãs faluas... até amanhã
Vou levado na suave brisa da maré-meia
Guiado pelo chamado de minha Musa
Rumo ao cais das Fontes de Hassan
Saúdo-te ó Ar-Ra'ad (2), rio-trovão
Saúdo Burj'munt (3), tua cidadela
Suavemente adormecida à beira-rio
Simulando cansado guardião
Mas sempre atenta sentinela
Quem teu forte pulso já não sentiu?
Baixa esta noite a guarda, venho em paz
Troquei meu fiel alfanje pelo frágil alaúde
Embriagado de Lua até que chegue a manhã
Deslizando no silêncio que a hora traz
Passarei Xanar'burj (4) antes que a maré mude
Rumo ao cais das Fontes de Hassan (5)
Quero inebriar-me no teu doce perfume
Afundar-me no mar azul do teu olhar
Beber desses lábios todo o teu sorriso
Na volúpia dos teus seios acender meu lume
E no teu corpo incendiado voltar a navegar
Perdido de amores, rumo ao Paraíso
Se eu não voltar, Ar-Ra'ad
Saúda por mim as faluas de Al-Burj
Al-Bideru Bin Al-Muni
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(1) - Al-Burj, "a torre", conhecida pelos cristãos como Albur, a actual Alvor.
(2) - Ar-Ra'ad, hoje Arade, rio que banha Silves e tem foz em Portimão.
(3) - Burj'munt, que por má interpretação dos cruzados tomou o nome de Porcimunt, é hoje a cidade de Portimão.
(4) - Xanar'burj, a "torre de Xanar", conhecida pelos cristãos por Xanabus existiu na que é hoje Estombar (e não S. Brás de Alportel).
(5) - Fontes de Hassan serão actualmente as "fontes" de Estombar.
1 comentário:
Este é um dos muitos poemas, talvez o mais belo, dedicado ao rio Arade e seus recantos e que reflecte uma época aurea da presença mourisca na zona de Portimão.
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