Maldição Sibilina
"16 de Julho de 1189. Domingo. Reunimos todos os barcos na pequena enseada e desembarcámos na minúscula praia a coberto do imenso canavial. Ainda não nascera o sol e já nos preparávamos para a cerimónia dominical onde seríamos abençoados pelo irmão capelão Bernardo Viegas e pelo comandante de esquadra o cavaleiro João de Ourém. Assim que os primeiros raios de sol despontaram, todos os irmãos do Templo colocaram o joelho no chão em sinal de reverência e oraram a Santa Maria, juntos, ao lado do poço do arco e em redor do marco de pedra que havia sido esculpido horas antes e que, enterrado naquele chão sagrado, simbolizava aquela reunião espiritual. Aquela terra já havia sido nossa antes, num passado distante..."
A pequena enseada onde fundearam as naus Templárias, a poente da foz do Arade
O marco de pedra com o símbolo do Templo que havia ficado no cimo daquela pequena falésia, conhecida hoje como ponta de João d'Arenz (corruptela de Ourém), resistiu ao passar do tempo como testemunho da nossa presença em terras do al-Garb ainda muçulmano. Testemunho mudo do grupo de monges-guerreiros em recolhimento, comungando fraternalmente da bênção missal, recebendo do comandante com entusiasmo as palavras de incentivo para a missão militar que se aproximava; a primeira tomada de Silves. Alguns não voltariam…
O local onde se realizou a cerimónia. Ao lado, tapado pela vegetação, o "poço do arco".
O agora desaparecido marco Templário com a cruz encimada pelo C "aspado"
Este testemunho Templário esteve mais de oitocentos anos naquela ponta da falésia, até que alguém o levou recentemente. E esteve sempre lá por uma razão... Silves esteve apenas dois anos nas mãos dos cristãos. Foi reconquistada em 1191 pelas forças do califa Abu Iuçufe Iacube Almançor e todos os vestígios da presença cristã foram apagados. Bem, quase todos.
Ao tomar conhecimento da presença do marco Templário o novo alcaide de Silves mandou parti-lo e deitá-lo ao mar mas a Sibila (enigmática personagem que se havia refugiado na serra de Monchique e voltado à cidade agora retomada), intercedeu e propôs poupar tal testemunho. Dizem as crónicas árabes que…
"A Sibila de Silves ter-se-ia oposto à sua destruição. Teria optado antes por lhe lançar uma terrível maldição que perduraria por séculos. Segundo as suas palavras, essa maldição cairia sobre os cristãos que tentassem recuperar essa pedra. Nenhum muçulmano lhe tocaria."
Não somos de acreditar piamente nessas coisas de maldições mas, pelo sim pelo não, nunca reclamámos tal pertence...
Fr. João do Paço
cronista-mor
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