1309
(*) “ […] foi quando no final de sua vida, no ano do Senhor de 1193, o Mestre D. Gualdim mandou criar a Comenda de Santo Isidoro, em cujas casas alguns de nossos irmãos saidos de Thomar se estabeleceram, e pouco depois desbravaram terra junto à costa oceanica, desde Santa Susana a norte, até aos limites da póvoa da Eyricea no sul, nos quais limites os nossos religiosos criaram a abadia de Santa Maria d’Ilhas e plantaram pinhal e vinhas. [...] meu avô foi um desses fundadores.
Esta Comenda já existe há 117 anos mas não consta dos registos da Ordem, e por isso aqui deixo o meu testemunho para os presentes e os futuros, de que esta Comenda existiu e da qual meu avô fez parte da sua fundação como Cavaleiro do Templo.
Agora no fim de meus dias, [mais...] deixo [junto...] para os meus descendentes alguns de meus simples pertences , com a súplica de que estas palavras que escrevo nunca deles se apartem, para que tenha lembrança perpétua a grandeza da nossa Ordem, que ora destroem e se acaba.
Eu, Martim Coello esta carta fiz no ano da Encarnação do Nosso Senhor de 1309.”
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* - Transcripção do manuscripto. Segundo o Livro de Assentos "VITULUM BINARIUM" ainda na época esta Comenda ficou registada como Comenda de S. Lourenço de Ilhas, no termo norte da Vila da Ericeira.
1835
" [...] não pára a vaga de roubos e vandalismo de que sofre o nosso Convento de Thomar por parte da urbe ensandecida. De temerosos a Deus e à Ordem de Christo, de um dia para o outro, passaram a temerários profanadores. [...] do pouco que salvei, conto esta caixa que contem as reliquias de meu antepassado, D. Martim Coelho e o livro da nossa linhagem e vidas dedicadas ao Templo. Bens que me vejo forçado a esconder na nossa casa da rua da Periguilha (*) [...]
Aos 14 de Maio de 1835
Fr. Lourenço Coelho
Cavaleiro da Ordem de Christo. "
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* - ou Rua de Peralves Seco, depois chamada Rua da Capela.
1989
" Caríssimos Amigos
[...] esta casa que herdei de meu saudoso pai, falecido em 1962, e sita na Rua da Capela, tem uma história que vos quero deixar. [...] este velho edifício de dois pisos, há muito na posse da nossa família, respira memórias e transmite vida. Por isso, ainda consegue surpreender até, os que o querem ver por terra. [...] quando herdei a casa decidi avaliar as condições em que esta se encontrava. Nessa altura e talvez prevendo uma decisão precipitada, um tio meu veio ter comigo, entregou-me um pequeno caderno de capa preta que tinha pertencido ao meu avô e disse-me : " Se estás a pensar deitá-la abaixo, lembra-te que ela ainda tem uma história para contar. Lê este caderno com atenção e depois decide o que deves fazer." Li o seu conteúdo e segui com cuidado as instruções nele contidas. Descobri por debaixo do soalho da sala, o acesso à cave que tinha sido usada como adega, arrombei o reboco da parede do lado do castelo e do nicho ali dissimulado retirei o livro de linhagem da nossa família e a caixa que continha o pergaminho de 1309, o anel de Cavaleiro templário e a ampola de vidro selada que guardava a madeixa de cabelo do meu antepassado D. Martim Coelho. 700 anos depois! [...] deixo assim à vossa guarda, meus amigos, estas relíquias, rogando a vossa promessa de que um dia se dignem testemunhar o que aqui vos descrevo.
Do vosso amigo
Domingos Neves Coelho
Quanto a nós, o prometido foi cumprido.
Domingos Neves Coelho faleceu a 3 de Janeiro de 2002 sem deixar descendência. Partiu em paz e convicto de que certas coisas não acontecem por acaso...
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