Um pouco de calor humano

25 de Novembro de 2010


O dia está cinzento, frio e chuvoso. Na grande cidade um carro circula, anónimo, na torrente do trânsito. De repente trava e pára mesmo no meio da enorme fila. O condutor sai e dirige-se à bagageira. Abre-a e retira um grosso casacão impermeável. 

Enquanto ao volante, tinha reparado numa figura magra que tremia descontroladamente encostado a uma árvore do passeio. Vestia umas calças esfarrapadas e uma camisa de manga curta. Para além disso estava descalço e completamente encharcado. Mas o mais doloroso era a visão daquele rosto frágil, numa expressão de súplica. 

Os carros da frente tinham começado a avançar. Os condutores dos de trás, impacientes, começavam a buzinar. Sem ligar aos protestos, dirigiu-se ao pobre homem e envolveu-o com o casaco, descalçou as botas de montanha e retirou as meias de lã. Num gesto de humildade ofereceu-as também. Levou a mão ao bolso e retirando todo o seu conteúdo, disse: - “Tome este dinheiro, saia da rua por esta noite e procure tomar uma refeição quente”

Surpreendido, o homem ainda tiritando de frio, perguntou: 

- Quem é você? Porque faz isto? 
- Um amigo que oferece o pouco que tem. Espero que chegue para o ajudar de momento. 
- Esse anel... conheço essa cruz... Obrigado, amigo. Que Deus lhe pague... 
- Ele devolve-me sempre. A dobrar...! 

Descalço, sorrindo, regressa à viatura imobilizada, perante a admiração de todos os que presenciavam a inesperada cena. Feliz, com um calor especial a envolver-lhe o coração, arrancou, anónimo, na torrente do trânsito da grande cidade. 

"Velhos e esfarrapados", apesar de anónimos, continuamos por cá…

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