4º Mestre em Portugal
1158 - 1193
Cavaleiro português, nos reinados de D. Afonso I e D. Sancho I
Nasceu em Marecos (a actual Barcelinhos, Braga), a 14 de Abril de 1118. Foi seu pai, Payo Ramires, filho de Ramiro Ayres, carpinteiro, e sua mãe D. Gontrade Soares, do ilustre ramo dos Correias.
D. Gualdim foi protegido de D. Afonso I e educado no paço. Participou com ele em 1139 na batalha de Ourique (no campo de Panóias), onde foi investido cavaleiro pelo então já proclamado 1º Rei de Portugal. Dá entrada na Ordem do Templo por sugestão do soberano ao mestre D. Hugo Martónio. É já na qualidade de cavaleiro Templário que, nos finais de 1151, parte para a Palestina, onde permanece por cinco anos. Participa na conquista de Ascalon, no cerco de Gaza e na rendição de Sídon. Regressa em 1156, logo após a morte do Mestre Geral da Ordem André de Montbard, de quem traz directivas bem precisas para o Mestre português D. fr. Hugo de Martónio. Traz consigo, como relíquias, a mão direita de S. Gregório Nazianceno, que conservou em Thomar, alguns manuscritos e uma outra relíquia que depositou secretamente na igreja do Santo Sepulcro, no castelo de Penha Alva (de que falaremos mais tarde). À chegada, o Rei eleva-o a Comendador de Braga e Procurador do Templo, cargo este que recebe, por já haver sido eleito Mestre D. fr. Pedro Arnaldo que sucedia a D. fr. Hugo após a morte deste, ocorrida no ano anterior. Na conquista de Alcácer do Sal, o Mestre D. fr. Pedro Arnaldo morre durante a escalada às muralhas do castelo e nesse mesmo ano de 1158, a 17 de Outubro, D. fr. Gualdim Pais é eleito Mestre Provincial em Portugal.
O novo Mestre, por doação de Afonso I, recebe em Março de 1161 o castelo e a Vila de Sintra e seu termo que ascende a Comenda. Nesse mesmo ano o monarca faz doação a D. Gualdim, a título particular, de umas "Cazas" nos arrabaldes da mesma. É com ele que a Ordem do Templo vai ter a maior importância no seu estabelecimento e expansão em Portugal.
O Rei D. Afonso I após a conquista da praça de Santarém, faz doação desta aos Templários, em cuja tomada estes participam e para a qual transferem a sua sede. Devido à disputa do eclesiástico da Ordem por parte do Bispo de Lisboa D. Gilberto (de Hastings), D. fr. Gualdim, insatisfeito com a situação, efectuou uma concordata entre as duas partes com o beneplácito do Rei. Ficou estabelecido que o soberano doaria aos Templários toda a região de Ceras (1159), dela ficando senhores, tanto no eclesiástico como no temporal, bem assim como da igreja de Santiago, em Santarém.
Na região doada à Ordem, D. fr. Gualdim manda iniciar, no primeiro de Março de 1160, a construção do castelo de Thomar (de que toma o nome do rio), sobre o que restava do castrum de Ceras. Aproveita inicialmente as ruinas da fortaleza e da igreja circular moçárabe existentes, meio derrubadas e abandonadas no cimo do monte. Para tal, utiliza materiais de construções antigas ali existentes e da velha cidade romana, jazente em baixo, na margem contrária. Dá por terminada a primeira fase da construção do castelo de Thomar, em tempo recorde, dois anos depois. O restante da construção foi feita faseadamente e durante anos, à medida que a fixação e estabilidade da Ordem se verificava. Nesse mesmo ano de 1162, em Novembro, D. Fr. Gualdim dá a primeira Carta de Foral aos povoadores instalados na encosta sul do monte do castelo.
O Mestre recupera várias fortalezas na região e dá cartas de foral aos habitantes que se vão instalando, sobre as quais iremos dando notícia, para não alongar a presente. Em 1170 manda construir a igreja de Santa Maria do Selho de Thomar, mais tarde chamada do Olival, sobre um antigo templo beneditino e que viria a ser o panteão da Ordem. Após um longo período conturbado de reconstruções, alterações e adaptações devido às características geológicas do local e condicionalismos das edificações pré-existentes, foi finalmente terminada em 1195. Em Junho de 1174 o Mestre concede novo foral a Thomar devido à forte expansão do local, que inclui já a margem direita do rio Nabão.
A treze de Julho de 1190, o já então velho Mestre e seus cavaleiros, juntamente com a população que se refugia dentro das muralhas do castelo, já definitivamente concluído, resiste ao cerco posto pelos muçulmanos, na forte ofensiva do miramolim Abu Yacub al-Mansur. Este vê-se obrigado a desistir do assalto ao castelo, após grandes perdas de homens e animais. Os Templários tinham grandes remédios para grandes males e no caso da enorme diferença numérica, venceram recorrendo à 'guerra biológica' (de que falaremos mais tarde).
A 17 de Abril de 1193, com setenta e cinco anos de idade e trinta e cinco de mestrado do Templo, morre no castelo de Thomar, em consequência de uma grave queda nas muralhas (enquanto contemplava a Porta de Santarém; mais tarde conhecida por Porta do Sangue), o velho Mestre D. fr. Gualdim Pais; um dos mais carismáticos Mestres dos Templários portugueses. É sepultado na cripta da igreja de Santa Maria do Castelo, situada junto da Porta do Sol. Terminada a igreja de Santa Maria do Selho em 1195, os seus restos mortais são trasladados para este templo que se torna assim o panteão oficial dos Cavaleiros Templários em Portugal, onde será para sempre lembrado pelos seus monges e Irmãos cavaleiros que, em sinal de respeito e admiração lhe mandam fazer um magnífico mausoléu (hoje inexistente). Devido a obras efectuadas mais tarde (no século XVI) no panteão, em que alteraram de forma vergonhosa a sua forma e conteúdo, tendo sido profanados todos os túmulos dos mestres Templários, alguns membros da Ordem recolheram antecipadamente as cinzas de Mestre Gualdim, dividiram-nas por quatro pequenos recipientes funerários que foram sepultados simbolicamente em locais diversos, tão queridos do velho Mestre: um nas "Cazas" de Sintra, outro na sua terra natal (Marecos), outro na igreja do Santo Sepulcro de Penha Alva (entretanto já resgatado) e ainda outro na igreja de Santa Maria do Castelo de Thomar. Na igreja de Santa Maria do Olival ainda se pode ver embutida na parede de uma das capelas laterais, uma lápide trazendo os seguintes dizeres:
"morreu Frei Gualdim, Mestre dos
Cavaleiros do Templo em Portugal,
na era de 1233*, terceiro dos idos
de Outubro. Este castelo de Tomar,
como muitos outros, povoou.
Descanse em paz. Ámen."
* - Este ano corresponde ao de 1195 que, por engano, é dado como a data da morte do Mestre, mas que não é senão a data da trasladação dos seus resto mortais para Santa Maria dos Olivais.
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