A propósito da descoberta recente de grandes quantidades de documentos Templários dos séculos XII e XIII, veio-me à memória um episódio rocambolesco acontecido há cerca de cinco anos durante um "inocente" almoço de cortesia.
Na altura, andavam uns 'doutores' interessados num pergaminho árabe coevo da conquista de Santarém, que tínhamos emprestado a um amigo de confiança para ser exibido numa mini exposição sobre os Templários italianos.
Esse pergaminho árabe continha, em verso, a indicação para o local onde tinha ficado 'perdida' uma pequena parte do espólio Templário da fortaleza de Soure que as tropas muçulmanas haviam recolhido, após nos terem vencido, e transportavam de volta à praça de guerra de Santarém.
Acossados pelos nossos saídos de Coimbra, os árabes empreendem o regresso apressado e durante uma alucinante fuga noturna, por entre enorme borrasca, o condutor de um dos grupos de mulas que transportavam o dito espólio de guerra, apercebeu-se horrorizado, que o último animal da fila havia desaparecido como que por encanto.
Tinha caído num poço de mina.
Perto, uma ermida moçárabe com um tanque do lado esquerdo da porta escavado na rocha.
Não teve outro remédio senão prosseguir, não sem primeiro memorizar num relance o local para, se possível, voltar e resgatar os seus pertences e os valores contidos nas duas caixas que o infeliz animal transportava.
E fê-lo, escondendo por entre os versos que escreveu, as características do local, que o reconduziriam mais tarde ao seu pequeno tesouro.
Não voltou. Morreu, pelejando no primeiro recontro com os nossos, nas muralhas de Santarém.
Esta era a história que acompanhava o pergaminho árabe e que contámos aos nossos 'doutores' durante o dito almoço.
Enquanto um manuseava o documento, o outro disfarçadamente fotografou-o fingindo estar a atender uma chamada de telemóvel, deixando depois o aparelho ligado em modo de gravador de voz para registar toda a conversa. E convenceram-se que não tínhamos dado por nada. O que nos divertiu imenso.
Dois anos. Foi o tempo que os referidos 'senhores' levaram a descobrir o que restava do tesouro perdido.
Chegaram mesmo a comprar o terreno onde se encontravam ainda as fundações da ermida e o respectivo tanque escavado na rocha. Depois foi a desesperada busca pelo poço de mina abandonado.
Encontraram-no.
Numa conversa mais recente, um deles confidenciou-me que tinha no seu museu particular uns artefactos árabes que lá tinha achado. Mas nada mais.
Não sei se chegou a perceber o sorriso dissimulado que fiz quando me veio à memória a imagem das duas caixas carregadas com os nossos pertences.
Já as havíamos resgatado há séculos...
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