A alcáçova mourisca
Começo aqui, nesta sétima parte, a descrição do que foi a primeira fase da construção do castelo da nossa Ordem do Templo, à sombra do qual se desenvolveu o lugar que mais tarde se chamaria Tomar. Estávamos então na primavera de 1160.
Tendo sido uma situação provisória, a adoptada na margem esquerda do rio, com a fortificação precária do que restava do convento dos frades beneditinos, Mestre Gualdim iniciou de imediato a recuperação do castelo mouro situado no cimo do monte fronteiro com o intuito de melhorar as condições de defesa da nossa milícia.
No início da segunda parte do Alfa Burion são descritos os pormenores dos céleres trabalhos no topo oriental do monte; "...onde se levantaram os panos de muralha derrubados, recolocaram-se portões, alpendres e alojamentos. Limpou-se a praça de armas."
"...e reconstruída a alcáçova no cimo do monte, de pronto se transferiu para ali a casa militar da Ordem. Nela foi acrescentada em altura a antiga torre que passou a ser o aposento particular do Mestre."
"As antigas masmorras foram só em parte aproveitadas e adaptadas para aumento da cisterna tendo as restantes sido tapadas por não se poder fazer delas nenhum serviço."
"...o restante espaço foi usado para aposentos dos nossos freires e, na própria praça de armas foram instaladas as cavalariças."
"Contava a ordem neste lugar com 23 de cavalo e lança [cavaleiros] 9 de arco longo [arqueiros] e 11 sargentos. Os restantes soldados e os muitos artesãos construtores e serviçais tinham as suas tendas no exterior."
No dito registo dá-se também conta da instituição neste local, do primeiro espaço religioso cristão, ainda que situado fora do recinto fortificado. Surge aqui, sem margem para dúvida, a primitiva igreja de Santa Maria do Castelo.
"Porque a igreja de Sião se encontrava tão derribada, o Mestre mandou que se aproveitasse a pequena cuba mourisca para converte-la em templo cristão; o que foi feito de pronto e após a sua reforma e consagração à Santíssima Maria."
![]() |
Cruzeiro de Santa Sofia |
De notar uma vez mais que nesta fase tanto a 'charola' como o morabito ficavam no exterior dos muros da alcáçova. Urgia agora o Mestre ver guarnecidas as suas muralhas com uma técnica de defesa inovadora para a época; o alambor.
" ...trazendo de boa memória os sistemas de defesa dos castelos do ultramar Mestre Gualdim logo encarregou frei Martim Preto de em seguida começar a cercar as partes mais expostas do castelo com um forte alambor; obra a iniciar em breve [...] deixando por ora os templos no exterior. Era de Nosso Senhor Jesus Christo de 1160 Outubro."
(continua...)
Fr. Manuel F. B.
cronista-mor da Ordem
Sem comentários:
Enviar um comentário