A sombra do Cavaleiro

16 de Junho de 2016



Há algum tempo que procuro um velho amigo. Sempre soube que costuma recolher-se em determinados lugares sagrados da Ordem. Por isso procurei-o em todos os templos dedicados a Maria. Encontrei-o recentemente, contemplando em silêncio a imagem de São Miguel dominando o dragão. Sentei-me em silêncio ao seu lado e saudei-o. 

- Estás bem? Há quanto tempo Irmão... 
- Há demasiado tempo... como deste comigo? 
- Sempre tive a esperança de um dia te encontrar numa das Casas de Maria. 
- Também o são de João e de Miguel, não te esqueças. Como estão os outros Irmãos? 
- Reunimos regularmente. Todos sentem a tua falta. 

Deixou-se ficar em silêncio, pensativo. Depois baixando a cabeça acrescentou baixinho... 

- Sabes que sempre fui contra a decisão de nos expormos. Há muita coisa que nunca será entendida fora do círculo interno. Muito menos o será no exterior da Ordem. Queres um exemplo? Olha para a figura de Miguel ali representado a matar o dragão. O dragão que sempre caminhou fielmente ao seu lado e que é afinal a sua própria sombra. Como tiveram a coragem de adulterar tal simbolismo? 
- É preciso dar a conhecer esta e outras verdades também aos Irmãos que estão lá fora. Temos o dever de lhes contar a verdade... 
- A verdade? E quem está hoje interessado na nossa Verdade? Todos procuram a verdade, mas a deles. A que lhes convém. Aquela que mais se ajusta aos seus interesses. Como lhes vais contar a verdade de Miguel? A de Maria e a de João? A da própria Ordem? Alguém te dará ouvidos e entenderá essa Verdade? Olha para todas estas figuras aqui representadas. Tu e eu sabemos quem realmente são. Tenta revelar a verdade e serás no mínimo ridicularizado e tomado por louco. 
- Alguém irá ouvir-nos. Tenhamos essa esperança. 

Meneando a cabeça ligeiramente levantou-se, devagar, colocando a mão paternalmente no meu ombro. 

- Pode ser que sim. Isso seria sem dúvida um verdadeiro milagre... O nosso mundo está a desaparecer, Irmão. Estão a perder-se os valores fundamentais pelos quais tanto lutámos e a que já ninguém liga. Sabes, sinto-me cansado. Mas tal como tu não vou desistir, se é isso que estás a pensar. Estarei sempre contigo, com todos vós, e com todos eles. 
Agora deixa-me ir ...até à próxima, Irmão. 

E afastou-se com um visível pesar. 
Irmão, companheiro, Cavaleiro acompanhado da sua fiel sombra que, num último vislumbre, me pareceu tomar a forma volátil de um dragão. 

Até à próxima Miguel...

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