Fonte de S. Lourenço

8 de Julho de 2011


Num dos salões do espólio da Ordem existe uma vitrina com o número 408. Ao contemplar o seu conteúdo, decidimos: - Se vamos criar um tópico sobre Thomar, comecemos por aqui... 

Mestre Domingos foi um dos mais activos e bem sucedidos investigadores da Ordem. O êxito do seu trabalho imprimiu-lhe um carisma difícil de ultrapassar até hoje. Toda a sua vida foi dedicada a procurar e a recolher documentos e artefactos Templários dos quais se tornou incansável estudioso e também feroz guardião. Escreveu minuciosos relatórios sobre os resultados alcançados e manteve todos os artefactos identificados e catalogados. Lavrados pelo seu próprio punho, seguem-se excertos da descrição de uma das suas descobertas: 

Relatório nº 408/29 

- ... conheci D. Antonio (...) em Lisboa na Primavera de 27 (1927). Encontrámo-nos por acaso na Igreja de Santa Luzia. Elle estava de vizita ao Castello e eu aos túmulos dos Mestres da dita Igreja que dizem Malteza e se encontra em estado de abandono. Nessa data reparámos ter ambos o mesmo interesse pella Historia e suas antiguidades. Com elle vinha o seu filho Francisco, hum rapaz enfezado e com problemas graves no apparelho respiratorio e digestivo. Aconselhei-o a levar o petiz a huma localidade costeira a norte de Cintra, afamada neste tipo de curas devido ao iodo das suas praias e às ágoas medicinais de huma das suas fontes. Terra alva de onde sou natural e que se chama Ericeyra. D. Antonio he hum cavalheiro de trato fino e agradavel. Homem simples, grande fazendeiro nos campos de Santarem. Iniciámos troca de correspondencia e no anno seguinte recebi a alegre notícia das grandes melhoras do seu filho Francisco. 

Nessa missiva incluía hum convite para que o visitasse na sua herdade de Almeirim, onde se encontrava na altura, acrescentando de forma enigmática que tinha 'algo' para mim. D. Antonio acolheu-me com todas as honras e mordomias e mostrou-me algo que me deixou pregado ao chaõ; huma pedra com incripçaõ em latim e hum manuscripto datado de 1611 que indicava a sua proveniencia e que dizia: 

" ... após a entrega do carregamento de vinho em Coimbra regressámos a Santarem. Ao passarmos novamente por Thomar parámos na fonte de Saõ Lourenço, junto da Ermida, para descansar os animais e reabastecer de agoa. Reparámos que huma das pedras no chaõ da fonte tinha huma inscripção dos antigos latinos e carregámo-la numa das carroças." 

Quiz adquiri-la a D. Antonio mas este, sabendo do valor que para mim representava, já havia decidido ofertar-ma em agradecimento pellas melhoras de Francisco. Pedi-lhe entaõ mais hum favor; que me autorizasse a fazer cópia do manuscripto, mas este fez questaõ de tambem mo offerecer dizendo que nunca separaria um do outro. Ambos trouxe comigo, documentei e arquivei com a nota que se segue: 

- Pedra proveniente de Thomar, recolhida na fonte de S. Lourenço. Calcária com huma inscripção: FLUMEN.NABIA 

Nada menos que a prova da mais antiga mençaõ que se conhece ao nome do rio que banha aquella cidade Templaria." 

fr. Domingos B.    
10 de Março de 1929 

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Tornaremos a falar de Nabia. 
Em 2008 voltámos à fonte de S. Lourenço para um novo registo fotográfico. Desta vez sob uma nova perspectiva. Sabíamos, por estudos recentes, que esta foi feita com materiais trazidos das ruínas da cidade romana de Nabância. Sabemos igualmente que de início foi chamada 'Fonte de D. Nuno' e que pouco havia sido modificada para além da colocação da placa de 1746, aquando da reforma da ermida de S. Lourenço. ... ainda lhe falta a 'pedra do meio'.

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